No momento em que a economia brasileira ainda ensaia uma expansão, o setor de energia solar fotovoltaica é extremamente importante e estratégico para o desenvolvimento do Brasil. Com alto potencial de complementar a matriz energética nacional, a fonte solar fotovoltaica promete alavancar diversos setores da economia, recebendo cada vez mais investimentos para seu crescimento e sua democratização, além de ser reconhecidamente a maior fonte de energia renovável geradora de emprego no mundo.
Acompanhe a entrevista exclusiva para o Portal Solar com Rodrigo Sauaia, Presidente Executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), com base nos depoimentos colhidos durante a InterSolar, maior feira do setor fotovoltaico no mundo, realizada em São Paulo, no final de agosto deste ano.
Qual o panorama da energia solar fotovoltaica (FT) no Brasil?
A fonte de energia solar é a mais abundante do planeta e a que mais cresce no Brasil e o mundo. O Brasil é um dos países com o maior potencial de geração de energia solar fotovoltaica. Produzida nos telhados das casas, estacionamentos, fachadas de edifícios ou em usinas solares de grande porte, é uma fonte de energia democrática, grande geradora de empregos, que traz tecnologia, conhecimento e inovação para empresas e universidades que ajudam nosso País a crescer e a se desenvolver com sustentabilidade.
Quando olhamos dados de performance do setor nesse ano, percebemos que o Brasil está de fato bem posicionado para ser uma liderança mundial na área. Porém, quando olhamos para o uso da tecnologia, do ponto de vista do atendimento e suprimento da demanda, ainda estamos atrasados.
Enquanto o fator de capacidade média, que representa o índice de produtividade das usinas fotovoltaicas no mundo é de cerca de 11,6%, no Brasil números do Ministério de Minas e Energia (MME) já mostram que chegamos a quase 18%. Ou seja, nossa produtividade e performance é mais de 50% melhor do que a de outros países.
As regiões Sudeste, Centro Oeste, Norte e Nordeste do País têm um enorme potencial, inclusive para grandes usinas de energia solar. Com esse potencial, a fonte, que há poucos anos era 0,1%, já passa de 1% da matriz elétrica nacional, ultrapassando neste ano a fonte nuclear.
É importante ressaltar que não queremos competir com as outras renováveis, mas somar, agregar e complementar a matriz elétrica brasileira. Vamos continuar nessa trajetória, assim como as de outras renováveis, que hoje já são parte da liderança do nosso País.
Quais as estratégias para superar esses desafios e expandir o desenvolvimento da fonte de energia solar fotovoltaica no País?
Uma dificuldade ainda está no financiamento e no acesso ao crédito no Brasil. Outra situação é que começamos tarde. Precisamos acelerar numa velocidade acima da média para recuperar este atraso.
Felizmente, com o avanço da tecnologia e a redução expressiva dos custos da energia solar, que, de 2010 pra cá, se barateou em 85%, ganhamos novos mercados. Na geração distribuída (GD), por exemplo, oportunidades se abrem dia após dia. Se, no passado, falávamos do uso dessa tecnologia somente nos telhados dos consumidores de baixa tensão, essa realidade já mudou. Agora, o sistema já está em habitação de interesse social e em prédios públicos. O próprio MME já está “solarizado”.
O uso no campo também cresce com velocidade, trazendo competitividade e maior previsibilidade para o produtor rural. Além do aumento do uso em comércios e indústrias, existem novos projetos de usinas flutuantes e esperamos que o governo avance no sentido de utilizar a fonte para complementar a capacidade de geração das nossas hidrelétricas.
O mercado está em franca expansão, principalmente nos últimos dois anos, quando o País recebeu um volume de investimentos impressionante. Somente em geração distribuída, este ano praticamente atingimos até agosto tudo o que foi investido no ano passado, chegando a R$ 2 bilhões em 2019. No acumulado, o volume já passa de R$ 5,5 bilhões. Na geração centralizada já temos mais de R$ 10 bilhões de investimento compromissados até 2023.
Lembrando que o setor de energia solar fotovoltaica é uma grande locomotiva para geração de empregos no mundo. Dos 11 milhões de empregos gerados pela cadeia de renováveis no planeta, um terço deles provém da fonte solar. Pouco deles no Brasil, mas estamos trabalhando e temos como meta trazer 1 milhão de empregos até 2030.
Devido ao seu enorme potencial de crescimento, no momento em que nossa economia ainda ensaia uma expansão, ter setores como esse é extremamente importante e estratégico para o desenvolvimento do Brasil.
Qual é o papel da fonte solar na matriz energética brasileira?
Sabemos que a fonte solar representa apenas 1,2% da matriz e esse volume está aquém do papel estratégico que essa tecnologia tem a cumprir na matriz. Precisamos combinar as diferentes fontes renováveis e a solar chega para agregar na eficiência energética.
As fontes renováveis têm sazonalidade ao longo do ano. Os recursos hídricos, por exemplo, passam por período de maior e menor disponibilidade para geração de eletricidade. A eólica e a biomassa, que têm complementaridade com a hídrica, também apresentam um período de baixa de produtividade, de safra e entressafra. Por outro lado, a solar sempre está na safra e, no período seco, tem alta de produtividade.
Essa menor variabilidade é uma excelente qualidade para complementar de forma robusta nossa matriz. A fonte solar ainda tem outros atributos, como por exemplo o de ajudar a reduzir a demanda por água para atividade de geração de energia elétrica, com o uso de tecnologia de flutuadores em cima dos reservatórios hídricos, preservando em até 70% a evaporação dessa água e ajudando a trazer uma matriz energética mais sustentável.
Como está a conscientização do consumidor brasileiro em relação à fonte de energia solar fotovoltaica?
A tecnologia conta com amplo apoio da sociedade. 93% dos brasileiros querem gerar energia renovável para sua casa e 85% da população apoiam mais investimentos públicos em energias renováveis, em especial solar e eólica. Isso vale também para os pequenos negócios, já que 80% instalariam o sistema solar fotovoltaico se tivessem acesso a financiamento competitivo.
O que tem sido feito para democratizar a fonte solar fotovoltaica no País?
A fonte alcança qualquer consumidor. Inclusive aqueles que não têm imóvel próprio e moram de aluguel podem fazer o uso dessa energia remotamente. Mesmo sem telhado, é possível acessar qualquer consumidor.
Também estamos avançando na parte de financiamento para o setor. A ABSOLAR ajudou a mapear as oportunidades de financiamento que eram muito limitadas. Agora já temos mais de 70 linhas de crédito para pequeno, médio e grande portes, mostrando que já avançamos muito. Os tipos de financiamentos estão disponíveis gratuitamente no site da ABSOLAR.
E a expectativa é que o Brasil tenha uma nova visão, do ponto de vista de governo, de planejamento e de operação, com relação ao uso dessa tecnologia, agregando cada vez competitividade, barateando a conta do consumidor, da indústria, do comércio e do poder público.
Nesse sentido, o MME tomou a importante decisão de incluir a fonte solar no leilão A-6, além de anunciar que vai antecipar os futuros leilões A-4 e A-6 e isso ajudará o setor e os investidores a se planejarem.
Quais as expectativas para o leilão A-6 com a entrada da fonte solar fotovoltaica?
A expectativa é a de que o preço médio de venda da energia elétrica no leilão A-6 seja reduzido. Significa dizer que o consumidor pagará menos. Neste leilão, onde os projetos serão entregues a partir de 2025, já foram cadastrados mais de 29 mil MW em projetos somente da fonte solar fotovoltaica. Esse volume representa cerca de um terço, ou 30%, de tudo que foi cadastrado no certame, que chegou na faixa de 10GW.
Se o governo quisesse utilizar todo esse portfólio de projeto, seriam mais de R$ 100 bilhões em investimentos privados no setor, agregando à economia milhares de empregos. São números impressionantes. Evidentemente, quando mais fonte solar o governo contratar, mais o setor vai ajudar a reduzir a conta de luz do consumidor.
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